A mestre de cerimônias Whoopi Goldberg no seu número de abertura, antes de lançar comentários cômicos, como a sugestão de que até Ingmar Bergman se sentiria depressivo se assistisse ao filme "Íris" |
Essa edição de 2002 do Oscar foi realmente peculiar. Como
os colegas do grupo já haviam dito, ela ficou marcada por ser a primeira edição
após o ataque do 11 de setembro, a primeira em que dois negros levaram a
estatueta do principal prêmio de atuação, a marcante presença de Woody Allen
jamais visto até então em cerimônias da academia, o prêmio honorário para
Sidney Poitier e todos esses fatos fizeram com que esta edição fosse a mais
demorada de todos os tempos com mais de quatro horas de duração. E é importante
ver como os americanos se unem nesses momentos difíceis, exemplo disso: a
presença marcante de Allen fazendo um discurso em homenagem a cidade de Nova
York, deixando aquela festa ainda mais peculiar.
O que interessa mesmo são os
filmes e, nessa edição, apesar do grande contexto social que estava em torno da
premiação, me surpreendi com os memoráveis títulos que pude contemplar ao longo
desse mês. Acredito que 90%
dos filmes analisados desta edição me agradaram por motivos diferentes, como
uma boa atuação (“Íris” e “Uma lição de Amor”), um roteiro diferenciado (“Amnésia”
e “Assassinato em Gosford Park”), o surgimento de um grande vencedor (“O Senhor
dos Anéis: A Sociedade do Anel”), o carisma da personagem (“O Diário de Bridget
Jones”), dramas que fazem a gente pensar (“A Última Ceia” e “Entre quatro
paredes”), um filme tecnicamente perfeito (“O Fabuloso Destino de Amélie
Poulain”), os preferidos do público (“Moulin Rouge – Amor em Vermelho” e “Uma
Mente Brilhante”), o trabalho de um gênio (“Cidade dos Sonhos”), enfim algumas
dessas descrições é a simples forma de ver a qualidade dessa edição.
A lista de indicados estava muito rica quase que em todas
as categorias e em muitas deles escolher um favorito ou um vencedor não
foi tarefa das mais fáceis. Em minha opinião Sean Penn e Russel Crowe foram os
melhores, mas não podemos deixar de reconhecer que Denzel Washington teve um
desempenho grandioso e a Academia soube reconhecer. No prêmio de Melhor Atriz,
tivemos cinco nomes impecáveis em seus papéis, realmente uma escolha difícil;
talvez eu ficasse com a maravilhosa interpretação de Nicole Kidman, mas, apesar
de não ser tão fã da Halle Berry, é notória a beleza e força que ela
desenvolveu em seu personagem para ganhar a estatueta. Não posso deixar de
citar os nomes de Renée Zellweger, Judi Dench e Sissy Spacek. Como coadjuvantes,
o prêmio foi mais do que merecido para Jim Broadbent e para o maravilhoso
personagem vivido por Jennifer Connelly.
Não sou muito de contestar os prêmios da academia, sei da
importância desse prêmio, mas sei também que muitos filmes, mesmo sem a
estatueta, ficam marcados para sempre na história do cinema. Um bom exemplo
disso são “Amnésia” e “Cidade dos Sonhos”. Apesar de ter gostado muito do
roteiro de “Assassinato em Gosford Park”, acredito que não foi superior à história
contada por Christopher Nolan. As duas histórias não são novidades, mas a forma
de as contar as fazem diferentes e nesse quesito Amnésia sem duvida foi
superior. Falando de direção, a Academia esta em débito com Lynch há muito
tempo. Desde 1980, quando foi indicado ao prêmio por “O Homem Elefante”, David
Lynch já deveria ter vencido este Oscar. Nessa edição, ele volta à disputa com mais
um de seus magníficos trabalhos, deixando qualquer espectador com a cabeça
revirada e cheia de perguntas sem respostas após a contemplação de Mulholland Drive. Acredito que essa
derrota tenha sido mais mercadológica, haja vista que o filme não teve uma boa
bilheteria e Lynch faz grandes críticas à própria indústria cinematográfica de
Hollywood. Mas como isso não me interessa, criar uma história tão peculiar,
diferente, utilizando a linguagem onírica e fazer com que o espectador busque
suas próprias respostas, só pode ser feito por um mestre dessa arte, e Lynch é
esse cara.
No mais, a vitória de “Uma mente Brilhante” como
melhor filme foi incontestável, uma história emocionante, superação do
personagem, grandes atuações, um filme realmente feio para vencer o Oscar. O
trabalho da equipe de Ron Howard foi magistral. Essa edição da Academia, acredito
que tenha sido uma das mais ricas que já pude ver e traz consigo, sem dúvida,
títulos que já estão marcados na história da sétima arte.
por Rafael Castro