sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Oscar 1962 - Opiniões [Parte 1]


Quem acompanha as entregas do Oscar sabe que todo ano há um filme que recebe grande destaque na cerimônia. Nas edições mais recentes, podemos exemplificar com os filmes “Quem Quer Ser um Milionário?”, de 2009, e “Guerra ao Terror”, de 2010. No ano de 1962, o grande filme da noite foi West Side Story, cujo título nacional é “Amor, Sublime Amor”. Ainda que esse tenha sido o grande vencedor, houve mais filmes que ficaram bem próximos em indicações, como “Julgamento em Nuremberg” e “Desafio à Corrupção”, que concorreram nas principais categorias, inclusive na disputa máxima.

Antes de começar a expor a minha opinião, gostaria de fazer uma pequena incursão pelos últimos anos do Academy Awards e, assim, traçar um paralelo com o ano que analisamos em agosto. Quando observamos os indicados e os vencedores dos últimos dez anos de prêmio – período, portanto, compreendido de 2001 a 2010 –, perceberemos que houve bastantes filmes do gênero musical que concorreram. Desde a “reinvenção” desse gênero, ocorrido em 2001, com o lançamento de Moulin Rouge, muitos produtores investiram pesadamente em filmes embasados pelas canções e coreografias, dentre os quais podemos citar Chicago, Dreamgirls, Nine, que concorreram em várias categorias (percebam: não estou me limitando à categoria principal). Acredito que a quantidade de filmes do gênero tenha aumentado ultimamente, estando cada vez mais notável a participação deles nas cerimônias. O parêntese que eu abri foi para expor um fato que eu acho muito curioso: nenhum musical conseguiu chegar à marca de 10 estatuetas conquistadas, tal como fizera Amor, Sublime Amor no ano de 1962.

Quero também apontar uma curiosidade: o ano que analisamos foi um dos que mais repetiu celebridades. Muitos artistas estiveram em mais de um filme, então, ao analisar os 17 filmes que concorreram nas oito categorias usuais, pudemos ver duas interpretações de uma mesma pessoa. Cito alguns casos: Audrey Hepburn esteve presente em Infâmia e em Bonequinha de Luxo, pelo qual foi indicada; Natalie Wood esteve em Amor, Sublime Amor, e em Clamor do Sexo, que lhe rendeu uma indicação; Warren Beatty, sem conquistar indicações, foi visto em Clamor do Sexo (co-protagonizando com a indicada Natalie Wood) e em Em Roma, na Primavera. Outros nomes de peso – de notável importância para o cinema – também estiveram presentes em filmes que nós conferimos: Bette Davis, Paul Newman, Vivien Leigh, Spencer Tracey, Sophia Loren.

Sem mais delongas, vou agora à minha opinião. É inquestionável que dentre os filmes, os mais notáveis para a Academia foram Amor, Sublime Amor, Desafio à Corrupção e Julgamento em Nuremberg, já que esses estiveram na categoria principal e também nas categorias importantes, como atuações, roteiro e direção. Fanny, cujo visual é muito interessante, decerto não estava no páreo e não concorria com os outros filmes e nessa mesma posição se encontrava o filme Os Canhões de Navarone, encurtando a lista de cinco indicados para apenas três, já que dois deles corriam fora da disputa, sem grandes chances de receber a estatueta. Retomando o meu segundo parágrafo, aproveitando para fechar o parêntese que abri acima e explicar minha opinião sobre o grande vencedor da noite, creio a pouca freqüência com que esses filmes musicais apareciam nas edições fizesse com que, ao conferiram Amor, Sublime Amor, vissem nele um tom a mais do que o filme realmente tem. Talvez eles tenham se impressionado com um ar enevoado de novidade e isso pode ter feito com que indicassem e premiassem o filme num nível exacerbado. Não sei se todos concordam comigo, mas a novidade que o filme apresenta – se é que apresenta –, não é suficiente para colocá-lo num patamar tão mais alto que os seus concorrentes, haja vista que Julgamento em Nuremberg, por exemplo, é perceptivelmente superior. Desafio à Corrupção está ao lado de Amor, Sublime Amor: ele igualmente provoca a ilusão de que é um grande filme. Não o é, no entanto – não para mim. O filme decerto vale pela presença marcante de Paul Newman e conceder-lhe a indicação foi justo, mas o filme, como um todo, não faz jus às nove indicações que recebeu.

As categorias de atuação foram marcadas também pelos atores dos filmes Desafio à Corrupção, que rendeu a quatro atores posições na lista dos indicados, e Julgamento em Nuremberg, que distribuiu cinco atores nas quatro categorias destinadas aos intérpretes. Sophia Loren, escolhida como a melhor atriz da noite, destacou-se em relação a concorrentes fortes, como Geraldine Page e Audrey Hepburn – e tenho a impressão de que sua atuação lhe foi mesmo capaz de colocá-la acima das outras. O mesmo digo de Maximilian Schell, que rouba a cena em Julgamento em Nuremberg – nem mesmo o já querido Spencer Tracey pôde lhe tirar o prêmio das mãos. Rita Moreno, a melhor atriz coadjuvante, surpreendeu-me e, tal como a Academia, a ela daria o prêmio daquela categoria. O melhor ator coadjuvante, porém, não me agradou. A indicação pode ter sido válida, mas o prêmio estaria bem melhor se tivesse vindo com o nome de Montgomery Clift escrito nele.

Não fico em dúvida ao afirmar: o grande filme da noite era Julgamento em Nuremberg. Preteri-lo em função de Amor, Sublime Amor é um erro grosseiro e blasfematório, principalmente quando penso que um filme tão bom recebeu apenas dois prêmios enquanto outro saiu com a marca assustadora de 10 estatuetas. Lembremo-nos disso: os três filmes que mais ganharam prêmios possuem 11 estatuetas. Perguntemo-nos: Amor, Sublime Amor seria quase tão bom quanto Ben-Hur, Titanic e O Senhor dos Anéis? Enfim, penso que o musical mais prestigiado pela Academia é inquestionavelmente sobrevalorizado e a ele daria, no máximo dois prêmios: Melhor Atriz Coadjuvante e Melhor Fotografia (Colorida).

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Final de julho e, como ocorre todo santo mês, "a pergunta que não quer calar" nos assaltava: “Qual edição do Oscar será dessa vez?” Já havíamos passeado praticamente por todas as décadas - 1942, 1951, 1977, 1981, 1999, 2006 -, menos os anos 30 - desconsiderando a primeira premiação, em 1929, que contemplou produções realizadas entre os anos de 27 e 28 - e os anos 60. Foi quando o Luís teve a ideia de nos debruçarmos sobre 1962, pois, segundo ele, “foi um grande ano, com títulos que sempre quis ver”.

O grande ganhador do 34º Academy Awards atende pelo nome, em bom Português, de “Amor, Sublime Amor”. O musical de Robert Wise concorreu em 11 categorias, conquistando 10 estatuetas, incluindo Melhor Filme e Direção.

A minha história com West Side Story é curiosa. Assisti o filme, pela primeira vez, numas férias de fim de ano, lá pelos 15 anos, numa daquelas madrugadas da Globo. Na ocasião, confesso, gostei bastante do que vi. Desde então, nunca mais havia tido contato com a obra, até que, alguns Natais passados, presentearam-me com um DVD do filme. Com a lembrança que tinha da história - de praticamente 15 anos “atrás” - corri para revê-lo. Não bastou muito tempo para comprovar que o nosso gosto depura com o tempo - ou não: dez minutos foram suficientes para cair nos braços de Morfeu. O número musical de abertura, praticamente sem música alguma, é longo e chato. Para mim, ali, pouco se salva. Embora goste muito da Natalie Wood, sua atuação é pequena se comprada com seu desempenho em Clamor do Sexo, outro filme concorrente daquele ano. Richardo Beymer, particularmente, só me agradou em O Diário de Anne Frank. Penso que tenha sido uma péssima escolha. E Rita Moreno... ah, sim! Rita Moreno é o grande nome de “Amor, Sublime Amor” - mas confesso que ficaria em dúvida em premiá-la com o Oscar.

O mais gozado nisso tudo é pensar que sou grande fã de outro musical de Wise, também ganhador de Melhor Filme e Direção, três anos depois: “A Noviça Rebelde”. Creio que essa minha identificação se dê por conta da história que, na minha opinião, é muito mais envolvente e pelas canções de Rogers e Hammerstein.

Esse chove-não-molha todo é para afirmar que, embora a Academia tenha laureado West Side Story como o grande filme daquele ano, para mim, essa posição é ocupada por Julgamento em Nuremberg. O filme de Stanley Kramer, que é apontado até hoje como um dos grandes filmes de tribunal de todos os tempos, tem atuações memoráveis - Maximillian Schell, arrebatador; Montgomery Clift, perfeito e uma Judy Garland que me deixa em dúvida se o prêmio realmente devia ter ficado com a Rita - e apesar das três horas de duração, não cansa - mérito do roteiro “redondo” de Abby Mann.

1962 ainda me revelou boas surpresas como Fanny - uma das fotografias mais bonitas que já vi - e A Balada do Soldado, indicado na categoria Melhor Filme Estrangeiro, que, aliás, recomendo entusiasticamente. Isso para não falar de outras obras como Infâmia e Os Canhões de Navarone... mas é melhor parar por aqui, antes que nossa meia dúzia de leitores vá embora e não volte nunca mais.



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