quarta-feira, 10 de março de 2010

Oscar 1977 - Casanova de Fellini


Federico Fellini, além de ser uma lenda do cinema é, antes de mais nada um artista. Mais do que um diretor de cinema, o mestre do fantástico, da análise poética da vida e criador de imagens oníricas é um gênio na criação de imagens e situações que nos transportam para a região da nossa mente que comanda os sonhos.

Em Casanova, o diretor atinge um patamar mais elevado na criação de imagens que abusam do realismo fantástico e que adentram o mundo dos sonhos. Talvez comparativamente o diretor atinja (nesse aspecto) a mesma qualidade que conseguiu em Julieta dos Espíritos e Satyricon. A história versa sobre o conquistador mundialmente conhecido Giácomo Casanova e suas inúmeras aventuras sexuais. Casanova é um bufão, um personagem operístico, patético na sua tentativa de parecer letrado, intelectual, sério e genial. O único talento real de Casanova é o sexual e quanto mais a idade vai chegando mais patética é sua situação.

Apesar disso, gostamos de Casanova porque Donald Sutherland interpreta com grande talento. Um de seus melhores trabalhos sem dúvida. O filme foi indicado a melhor roteiro e figurino (levando esse segundo de forma mais que merecida) mas pra mim uma indicação a Fellini e a inacreditável direção de arte não seriam descabidas.

Já o roteiro (que foi indicado) não me convenceu num todo. Ele é episódico, o que facilita o deglutir, mas falha ao não apresentar nenhuma ligação entre os episódios, o que aumenta (ainda mais) a sensação de que poderíamos estar vendo a mesma história numa série de TV. Definitivamente Fellini já teve melhores roteiros em mãos.

Porém, a direção do gênio italiano continua impecável nessa película, abusando dos planos artísticos e pouco se importando para o realismo (notem logo no começo a cena de Casanova no barco, com o pano simulando o mar) inspirando-se no teatro e na ópera para a criação dos seus cenários, composições visuais e para a maravilhosa (e já citada) direção de arte. Existem alguns momentos do filme que são dos mais inspirados da carreira do diretor. Como esquecer as imagens dos candelabros descendo e sendo apagados com toalhas, ou dos inúmeros pianistas tocando melodias incompreensíveis culminando num hino cantado por todo um salão, ou mesmo da boneca (obviamente uma atriz) que Casanova se apaixona entre tantos outros momentos de beleza.

Não é o melhor Fellini (nem de longe), mas tem a marca do mestre e por isso merece ser visto.

Por: Alexandre Landucci

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