sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Oscar 1988 - Esperança e Glória


A Segunda Guerra Mundial foi o conflito armado com o maior número de mortos na História. Fala-se em cerca de 62 milhões de mortos, incluindo civis e militares. Em 1939, o exército alemão invadiu a fronteira polonesa, dando o tiro inicial da guerra. A Inglaterra (Império Britânico, à época) deu seu apoio à Polônia, além da União Soviética, dos Estados Unidos, da China, da França, entre outros países, constituindo os Aliados.

O líder britânico na Guerra foi Winston Churchill (1874-1965), famoso na época em questão pelo ímpeto em vencer, fosse o que fosse. Para o estadista, a vitória dos Aliados deveria se efetivar “a qualquer custo, a vitória apesar do terror: a vitória, por muito longa e custosa que a estrada possa ser”. De fato, a vitória veio, mas cerca de quinhentos mil ingleses perderam suas vidas nas batalhas de 39 a 45.

Podemos ver os terrores, na prática, das guerras segundo depoimentos de pessoas que vivenciaram tais experiências. Uma trágica rotina de vida se arquiteta em mãos belicosas. O filme Esperança e glória (1987) é um exemplo de como o cotidiano das famílias londrinas se mudou com o estopim da guerra. Entretanto, um ponto deve ser levado em consideração: a despeito da mortandade e da tristeza pelo conflito, a Segunda Guerra ganha, no filme, um viés maravilhoso. Através do olhar da criança, Billy Rowan (Sebastian Rice-Edwards), o estourar de bombardeiros no céu tem a mesma magia do fogo de artifício que celebra o novo ano. As casas destruídas trazem, para ele, momentos de aventura. A criança não tem medo da guerra, pois a sociedade ensina a ela que guerrear é necessário para defender aquilo que se possui. Além disso, o espírito das batalhas só reforça o patriotismo de cada indivíduo, o que, na realidade, não passa de uma confissão de fraqueza.

O ambiente hostil se torna substrato para uma composição de sociedade que só surge nesses momentos instáveis: apesar da relativa inocência de Billy, percebe-se que suas atitudes tendem ao machista e ao agressivo. O Zeitgeist, por assim dizer, se transfigura dentro da criança.

Outras marcas sociais se evidenciam ao longo do filme: a religião (constituinte do pilar Estado-Igreja-Mídia) tem papel importante na visão de mundo. Não é a toa que a mãe de Billy se chama Grace, cujas irmãs se chamam Charity, Faith e Hope. A caridade, a fé e a esperança são as três virtudes teologais, denominadas em 1 Coríntios 13: 13. As virtudes descrevem a maneira de se viver e de se morrer bem. As três irmãs aparecem sempre como pessoas capazes de ajudar Grace, o que se mostra claro em cenas como o incêndio da casa dos Rowan.

PERFIL: JOHN BOORMAN
John Boorman nasceu em 18 de janeiro de 1933, em Shepperton, sul da Inglaterra. Seus filmes obtiveram nove indicações ao Oscar, sendo cinco por Esperança e glória (1987), filme de que tratamos, três por Amargo pesadelo (1972) e uma por Excalibur (1981). Nos dois primeiros filmes, o próprio Boorman concorreu na categoria de Melhor Diretor. Apesar disso, o capricorniano de 1,73m nunca ganhou. Sua produção mais recente, O rabo do tigre, data de 2006, o que representa uma pausa incomum em sua carreira. Isso se explica pelo trabalho em que está envolvido: The Wonderful Wizard of Oz, ainda não lançado.

Ele, que começou como limpador a seco ainda no sul da ilha, teve sua primeira indicação a um prêmio de peso em 1970, e ganhou: Melhor Diretor no Festival de Cannes por Príncipe sem palácio. No total, são 18 prêmios e 30 indicações.

É casado com Christel Kruse, que depois passou a ser conhecida como Crystal Boorman. Sua mulher foi figurinista de dois dos filmes de Boorman.

CURIOSIDADES
É importante lembrar que o enredo traz um pouco da história de vida do diretor, John Boorman (1933-...). As bombas que os alemães lançaram diretamente na Grã-Bretanha em 1940 formaram um período histórico conhecido como The Blitz. Boorman, desse modo, viveu nesse contexto, e, em caráter semiautobiográfico, se utiliza desses elementos na obra ficcional. De todo modo, nota-se que é do feitio do diretor a temática da guerra. Inferno no Pacífico (1968), também dirigido por ele, conta a história de dois homens lutando pela sobrevivência numa ilha: um japonês e um americano, que alegorizam, de maneira geral, os polos opostos da Segunda Guerra. A título de curiosidade, o nome do filme pode ser visto como uma redução de "Land of Hope and Glory", canção britânica famosa que exalta o caráter nacionalista. Em outras palavras, um hino não-anunciado. A música pode ser acompanhada no link a seguir: http://www.youtube.com/watch?v=podh1wht9RY.

INDICAÇÕES:
- Melhor Filme - John Boorman
- Melhor Diretor - John Boorman
- Melhor Fotografia - Phillippe Rousselot
- Melhor Direção de Arte - Anthony Pratt e Joanne Woollard
- Melhor Roteiro Original - John Boorman

por Darlan Xavier Nascimento

3 comentários:

Luís disse...

Muito bom o seu texto, Darla, acho que você aponta bem as características boas dessa longa-metragem indicado a Melhor Filme. John Boorman fez mesmo um trabalho interessante, que vale a pena ser conferido por trazer consigo um caráter "inovador" da guerra: a visão da criança é usada para diminuir o aspecto dramático e suavizar o impacto da guerra. Gosto da cena em que as crianças ficam estarrecidas porque a mãe de Pauline morreu e contam uma para a outra como se isso fosse uma novidade verdadeira lúdica.

E Boorman conquistou três indicações pela mesma obra, o que é notável!

Decerto é um filme do qual gostei bastante: delicado e sincero, apesar de doloroso em vários aspectos.

Thiago Paulo disse...

adoro o tema abordado e achei o filme muito bom, apesar de longo.

Marcelo A. disse...

Realmente Esperança e Glória é um filme longo, mas eu gosto bastante. Perdi a conta de quantas vezes o conferi. E o texto do Darlan está brilhante - pra variar.

;)

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