terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Oscar 1988 - Opiniões (Parte 3)

Bernardo Bertolucci nos bastidores do grande vencedor da noite: "O Último Imperador".
Em 1988, tivemos uma belíssima edição da academia com grandes títulos selecionados. Foi uma experiência  muito boa apreciar essa edição, pois me surpreendi com vários filmes indicados (dos quais nem tinha ouvido falar) e também trabalhos que ficaram de fora da lista.

Todos os filmes indicados tiveram seus méritos e peculiaridades que fizeram chamar a atenção da Academia, “O Último Imperador” (9 estatuetas) foi uma das grandes surpresas que tive, uma biografia (sempre muito bem aceita bela academia) belíssima e muito bem construída pela equipe de Bertolucci, merecidamente venceu no que foi indicado.  Por outro lado, “Esperança e Glória”, “Minha Vida de Cachorro” e “Adeus, Meninos” poderiam sair pelo menos com uma estatueta naquela noite, são belíssimos filmes com temáticas muitos parecidas (a vida aos olhos de uma criança), mas com singularidades próprias e marcantes.

Não posso deixar de falar na indicação de “Nos Bastidores da Noticia” como Melhor Filme. Dos indicados, tiveram outros títulos como “A Era do Rádio” e até mesmo “Adeus, Meninos” (que foi indicado como Melhor Filme Estrangeiro, na época somente produções americanas é que concorriam para Melhor Filme) que me agradaram muito mais. A própria não-indicação de Louis Malle como Melhor Diretor me deixou um pouco surpreso, mas de qualquer maneira Bernardo Bertolucci mereceu o prêmio.

Já as atuações foram um caso à parte, as vitórias de Michael Douglas e Sean Connery serviram para coroar o grande trabalho que esses magníficos atores apresentaram ao público com seus personagens. A singela, mas agradável atuação de Olympia Dukakis em “Feitiço da Lua”, foi muito digna de estatueta. Mas a grande polêmica da noite ficou por conta da vitória de Cher como Melhor Atriz, ela como artista pop eu não conhecia; já como atriz, em seu primeiro filme que vi, gostei muito de como ela conduziu e interpretou seu personagem, mas vencer Meryl Streep e Glenn Close com personagens fora de série não caiu muito bem.

Falando agora de roteiro, de certa forma eu concordo com a Academia, às vezes ela surpreende, como na  vitória de “Feitiço da Lua” (roteiro original) e às vezes ela é pragmática como na vitória de “O Último Imperador” (roteiro adaptado), ambos são belos trabalhos.

No geral, eu concordo com a premiação da Academia, sempre há alguma divergência entre filmes, indicados ou não, a verdade que listas de melhores em se tratando da sétima arte vão ser  sempre polêmicas . A Academia tem seu perfil, mas muitas vezes ela sabe criar uma boa polêmica para o público. Contudo, gostaria de citar alguns filmes que merecem ser lembrados mesmo tendo sido pouco indicados, como é o caso de “Wall Street - Poder e Cobiça””, Nascido para Matar”, “Bom Dia, Vietnã”  e “Os Intocáveis”.
 por Rafael Castro

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Olympia Dukakis vencendo o seu primeiro e - até hoje - único Oscar.
É OSCAR OU É GRAMMY?

Com exceção de dois títulos – “Os Intocáveis” e “Era do Rádio”, duas grandes obras – todos os outros filmes indicados em 1988 trazem em sua produção apenas um ou outro elemento de grande destaque. A começar a análise pela categoria principal, podemos observar uma característica curiosa: duas comédias românticas, um drama biográfico, um thriller e um drama apresentado através da perspectiva infantil. Essa variedade de gêneros nos leva ao pensamento de que a Academia buscava alguma inovação, talvez um maior reconhecimento de produções que, devido ao gênero – comédia e thriller, por exemplo –, acabam ficando de fora da corrida pelo Oscar de Melhor Filme.

Analisando as outras categorias, percebemos outras peculiaridades: todos os diretores são não-estadunidenses; um indicado a Melhor Ator é italiano; um dos indicados – aliás, o vencedor - a Melhor Ator Coadjuvante é escocês; na mesma categoria, dois atores são negros; uma das atrizes na lista das coadjuvantes é argentina; e, por fim, um indicado a Melhor Roteiro Original é francês. Dando continuidade às observações, veremos que a variedade de gêneros também acontece nas outras categorias, mostrando que essa é provavelmente a edição mais globalizada e multicultural da Academia, que deu espaço na 60ª edição às minorias, que dificilmente aparecem como indicadas e, evidentemente, mais dificilmente ainda aparecem como vencedoras, como é o caso das comédias (pouquíssimas venceram), dos atores negros (apenas 13 nomes dentre mais de 1500 indicações conquistaram uma estatueta) e dos atores estrangeiros (até o momento, apenas 3 venceram por interpretações em suas línguas-maternas por filmes falados exclusivamente em língua não-inglesa).

Trata-se, a meu ver, de um ano deficiente para o Oscar. Quando um filme tão insosso como “Nos Bastidores da Notícia” consegue lugar na categoria máxima e ainda rende aos seus três atores centrais indicações nas respectivas categorias, é um sinal de que algo é preocupante! A somar, ainda sobre a categoria principal, preterir “A Era do Rádio” e “Os Intocáveis” a títulos como “Feitiço da Lua” também indica falta de senso crítico. Não que a comédia estrelada por Cher seja ruim, pelo contrário – mas inequivocamente some em comparações com os filmes de Woody Allen e Brian De Palma, dois diretores que também deveria substituir Norman Jewison e John Boorman, sendo que a este, para mim, caberia apenas a indicação na categoria de roteiro original.

Se as categorias de Ator, Ator Coadjuvante e Atriz Coadjuvante selaram com qualidade a premiação, entregando as estatuetas respectivamente a Michael Douglas, Sean Connery e Olympia Dukakis, a categoria de Melhor Atriz apresenta uma problemática ao premiar a atriz-cantora Cher: mérito pela sua interpretação como Loretta Castorini, que, só pra constar, é muito boa, ou o mérito é de sua longa carreira como artista da indústria fonográfica, na qual Cher tem raízes e através da qual se tornou conhecidíssima e respeitada como artista? Considerando as interpretações de Sally Kirkland e Glenn Glose, ambas muito mais pungentes em suas composições do que Cher, eu inevitavelmente penso que a Academia se confundiu, pensou que fosse o Grammy e entregou o prêmio à carreira musical mais destacada dentre as cinco indicadas.

Essa cerimônia globalizada e estranhíssima rendeu 9 estatuetas ao filme de Bertolucci, “O Último Imperador”, e isso apenas mostra que o filme é uma produção tipicamente vencedora da categoria principal. As comédias, os estrangeiros e as crianças – sim, elas tiveram participação muito notável nos indicados dessa edição – apresentam uma Academia supostamente aberta a todas as vertentes artísticas, inclusive a música!

por Luís Adriano

Um comentário:

Reinaldo Glioche disse...

Belíssima memória trazida avante com essa postagem. Já conhecia o blog. Luís. Mas o convite foi oportuno nessa época de empolgação cinéfila.
1988 realmente foi um bom ano. Não acho que "O último imperador" fosse o melhor filme, mas não discordo dos escolhidos nas categorias de atuação. Até Cher eu achei justo.
Abs

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