quinta-feira, 29 de julho de 2010

Oscar 1981 - Opiniãoes: Parte 1

A cerimônia de 1981 foi marcada pela vitória de Gente como a Gente, obra de Robert Redford, sobre Touro Indomável, que era o favorito ao prêmio máximo. Competindo com esses dois filmes, estavam também Tess, filme de Roman Polanski, O Destinou Mudou Sua Vida, de Michael Apted, e O Homem Elefante, de David Lynch.
É curioso pensar que das cinco obras que concorriam na categoria principal, três delas tinham como base uma história real. O Destino Mudou Sua Vida, Touro Indomável e O Homem-Elefante abordam as vidas de três figuras conhecidas: respectivamente, a cantora country Loretta Lynn, o boxeador Jake La Motta e Joseph Merrick, o primeiro homem a ser estudado com a atualmente conhecida Síndrome de Proteu. As outras duas obras, Tess e Gente como a Gente, ambas adaptadas de outros romances, falam respectivamente sobre a vida de uma jovem e os problemas que ele enfrenta em nome do amor e o segundo fala sobre a desintegração de uma família após a morte do filho mais velho num acidente de barco.

Honestamente acho que essa é uma das cerimônias que menos me impressionaram, principalmente no que diz respeito à categoria principal. Atualmente, cinéfilos consideram Tess, Touro Indomável e O Homem Elefante grandes obras dos diretores Polanski, Scorsese e Lynch, bem como Gente como a Gente, de Redford, é considerado uma das melhores estréias de um diretor. Michael Apted, diretor de O Destino Mudou Sua Vida, não é muito lembrado – e nem mesmo foi lembrado naquela cerimônia, que simplesmente o ignorou na categoria Melhor Diretor.

Vou, então, discorrer sobre o que acho a respeito da vitória de Gente como a Gente. Creio que de todos os filmes, apenas dois concorriam de fato – Ordinary People, que acabou vencendo, e Elephant Man, que não conquistou nenhuma das oito estatuetas a que foi nomeado. Todos os outros filmes, embora tenham os seus aspectos positivos, estavam fora da disputa. Tess, por exemplo, é uma obra com grandes atributos, decerto uma boa adaptação, alcançou níveis interessantes de qualidade artística e técnica, mas lhe falta a capacidade de atrair o público. Para mim, um filme pode ser tecnicamente maravilhoso, mas é necessário que entretenha o espectador, de modo que ele se torne completo. Um bom filme é aquele que atinge quem o vê e faz com que esse espectador devolva para o filme alguma emoção. Touro Indomável sofre do mesmo mal. Hoje todos o amam, mas creio que isso se deve à consolidada carreira de Scorsese – qualquer obra feita por ele vira febre entre cinéfilos. Ranging Bull tem excelente atuções, maravilhosa direção, elementos técnicos impressionantes, mas não exerce qualquer carisma no espectador, que o vê e depois de um tempo se cansa, pois parece que nada na história é capaz de atrair verdadeiramente a atenção. Nesse caso, o filme, que deveria emitir um sinal e receber outro de volta, acaba se tornando uma via de sentido único.
Isso muda quando tratamos das duas obras que eu disse que realmente concorriam. As duas obras são realmente interessantes e eu as considero boas emissoras e receptoras – nos passam uma informação e somos capazes de reagir positivamente a ela. A grande diferença entre os dois é o enredo. Ambos tratam de assuntos delicados: uma deficiência física que transforma uma vida em fonte de humilhação e a difícil tarefa de lidar com a morte de um ente querido. Eu posso dizer que gosto dos dois filmes, em intensidades quase semelhantes, mesmo que o foco do meu gostar se direcione a elementos distintos. Enquanto me agrada totalmente a parte técnica de O Homem Elefante, fico mais tendencioso pela parte artística e emocional de Gente como a Gente.

Não sei se devemos ver um filme com a mente ou com o coração. Creio que devemos saber dosar bem isso, a fim de não sobrevalorizar um filme que comova, mas seja tecnicamente falho nem diminuir um filme em que haja elementos técnicos bem elogiáveis e que falhe na sua concepção artística. Para mim, é inegável que, dentre as duas obras, a que mais aproxima o espectador da história narrada é Gente como a Gente, exatamente porque estamos vendo uma história que nos é quase palpável – toda família facilmente pode ser obrigada a lidar com a morte de um filho, até mesmo a nossa. E isso nos torna muito mais receptivos a obra de Redford do que nos sentimos próximos de uma obra que fala sobre um caso de neurofibromatose e deformidade em 90% do corpo.

Assim, creio que os membros da Academia se sentiram mais tocados por Ordinary People, de modo que o consideraram o melhor filme dentre os indicados. Eu provavelmente faria a mesma coisa, embora não desmereça nenhum dos outros filmes. O único pensamento que não sai da minha cabeça é o fato de que todos os filmes dessa edição me parecem sobrevalorizados, todos – sem exceção.

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