A Última Ceia
(Monster’s Ball, 2001)
Diretor: Marc Forster
Roteiro: Milo Addica e Will Rokos
Elenco: Billy Bob Thornton, Halle Berry, Heath Ledger,
Taylor Simpson, Peter Boyle, Amber Rules, Mos Def.
“A mudança de uma vida toda pode acontecer num único
momento”. E talvez essa tagline seja
apropriadíssima à história de Leticia Musgrove, uma garçonete afro-americana
cujo filho é obeso e cujo marido é presidiário – é como se toda sua vida
estivesse presa ao preconceito que circunvizinha às suas condições sociais, já
que, dada a pobreza e as relações familiares, Leticia parece sem opções senão
aquelas às quais sua vida está submetida. E tudo muda quando dois
acontecimentos bruscos – a eletrocução do marido e a morte do filho num acidente
de carro – implicam no encontro com Hank Grotowski, um homem que lhe presta
auxílio no pior momento de sua vida.
Percebemos que é aí que a festa dos monstros* – título original do filme – verdadeiramente
começa: a relação de Leticia e Hank envolve duas personalidades confusas de
características que, grosso modo e inconscientemente, os torna pernonae non gratae um para o outro,
ainda que, paradoxalmente, no plano da consciência, um depende do outro para
passar por um processo de modificação, principalmente pelo fato de que os
dramas dela não maiores que os dele. Dificilmente, aliás, se poderia mesurar as
dificuldades que cada um enfrenta na vida.
O filme tem forte apelo social, sendo a sua abordagem
sociológica bastante interessante, principalmente pelo modo como mostra a
transformação lenta do preconceito em afeição devido à proximidade com o objeto
de repúdio inicial. O pejo que a família Grotowski nutre por negros se estende
a várias gerações e a incursão de Leticia naquele novo meio implica problemas
que se reviram naquela esfera familiar já bastante dilacerada. Talvez tenha
sido o seu fator social que concedeu à história – detentora de uma das mais
realistas cenas de sexo do cinema – um lugar na lista dos indicados a Melhor
Filme e, provavelmente, é também seu apelo social, em parceria com a eficiência
interpretativa de Halle Berry, que a tornou a primeira e única atriz negra a,
até o momento, ter ganhado um Oscar de Melhor Atriz. Trata-se, pois, de uma
obra bastante ousada na sua proposta temática, ainda que, superficialmente,
pareça uma obra reacionária.
INDICAÇÕES (1
vitória):
1. Melhor Atriz: Halle Berry (venceu)
2. Melhor Roteiro Original: Milo Addica e Will Rokos
por Luís Adriano de
Lima
* O título original faz referência à noite anterior a uma
execução, na qual os guardas que ministrarão a execução bebem e se divertem como forma de distração a fim de
estar relaxados para o dia seguinte, quando terão que efetuar a pena de morte.
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